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2023-10-16    IAOD

José Maria Pereira Coutinho

“Qualidade de vida dos lares para idosos”


De acordo com os dados estatísticos oficiais, a população idosa com mais de 65 anos de idade é de cerca de 89 mil pessoas. Nos próximos vinte anos prevê-se uma grave desproporção entre a população idosa e a população total, designadamente um aumento de cerca de 30% em relação aos dados populacionais de 2021. De acordo com os padrões internacionais, a sociedade macaense está a tornar-se numa sociedade hiper-idosa prevendo-se que em 2041 o número de idosos atinja cerca de 164.000 (cento e sessenta e quatro mil) pessoas.

Neste momento, uns grandes problemas na RAEM tem a ver com o tempo de espera por vagas quer nos asilos quer nos lares que pode demorar cerca de dois anos para ser atendido. E a tendência é de que esta demora aumentará de ano após ano. De conformidade com as queixas que o nosso Gabinete de Atendimento aos Cidadãos tem estado constantemente a receber, para além das referidas falta de vagas nos asilos e lares, também os pedidos de aprovação por parte das entidades oficiais são extremamente morosos, devido talvez, à falta de vagas. Assim, neste momento, o tempo de espera para que um idoso possa dar entrada num asilo ou lar público ou asilo ou lar privado, mas subsidiado pelo erário público demora em média dois anos. Este longo período de espera para além de causar enormes transtornos familiares tem estado a contribuir para a deterioração dos cuidados de assistência básica aos idosos principalmente aos idosos com dificuldades de locomoção.

Outras das queixas recebidas tem a ver com a carestia de vida, os valores mensais cobrados pela estadia aumentaram drasticamente após a pandemia e estão neste momento muito fora do alcance das possibilidades financeiras de muitos idosos e das suas famílias.

Apelo às entidades competentes para prestar mais atenção à qualidade de vida dos idosos internados fiscalizando o estado de satisfação geral baseado em aspectos objectivos e subjectivos das suas escolhas pessoais. No caso dos lares para os idosos, a regra geral, são as instituições que se apropriam de definir o que é a qualidade de vida para os idosos. Na maioria das vezes, considerando que o idoso não "sabe" ou "não entende" o que é bom para ele. Deve-se impedir a ocorrência de situações em que os idosos permanecem todo o dia sem actividades e impossibilitados de disfrutar de privacidade salientando que o acesso aos meios de comunicação social é ainda precário, insuficiente ou deficiente (jornais, revistas, rádio e televisão).

Não podemos ignorar que muitos idosos internados em asilos estão abandonados duplamente. Primeiro, pela família e muitas vezes pela própria instituição. Esse duplo esquecimento condena-os a uma realidade sempre idêntica, não raras vezes definida por eles mesmos como um quotidiano onde se "come e dorme".

Não podemos permitir que os idosos sejam tratados como absolutamente incapazes, mesmo quando no gozo pleno de suas faculdades mentais ou independentes fisicamente. Deve-se verificar se existem ou não situações em que os idosos não podem decidir o que quer que seja, devem responder prontamente às normas internas definidas sempre por outros, comer a comida que outros preparam, dormir e acordar nas horas de praxe, tomar a medicação que lhes é dada e aguardar. Aguardar, indefinidamente, por nada.

Aos idosos vitimados por esse modelo de vivência não se oferecem outras actividades. Para todos os efeitos, eles estão internados em um espaço cuja realidade se situa entre o silêncio e a morte. O silêncio incontornável da vida que resta e o silêncio futuro que resultará do fim das vidas.

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