2024-06-18 IAOD
José Maria Pereira Coutinho
“O Governo de Macau tem a enorme responsabilidade de resolver com máxima urgência os problemas estruturantes que afligem a RAEM”
Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), celebra-se no próximo dia 27 de Junho, o Dia Mundial das Micro, Pequenas e Médias Empresas destinado a evidenciar a importância económico-social dos pequenos negócios em todo o mundo. Para a ONU, as micro e pequenas empresas “são a espinha dorsal da maioria das economias e desempenham um papel fundamental nos países em desenvolvimento”. Diz a ONU que essas empresas “são responsáveis por oportunidades significativas de criação de emprego e rendas em todo o mundo” e foram identificadas como “um dos principais impulsionadores da redução da pobreza e do desenvolvimento”.
Quem vive em Macau e tenha tempo, de andar a pé, de norte a sul desta pacata cidade, como faço muitas vezes por semana, consegue-se ver com facilidade e chegar rapidamente à conclusão de que o pequeno negócio vai continuando a “morrer” por falta de clientela e nem os investimentos financeiros em elementos não jogo conseguem alterar o triste cenário do desaparecimento destas empresas muitas delas são empresas tradicionais com dezenas de anos de actividade comercial.
De acordo com as informações recolhidas junto de centenas de lojistas e dos proprietários de pequenos negócios, neste momento nem diminuindo as rendas se consegue travar a “extinção” das PMEs, porque para além dos turistas não efectuarem despesas em bens e serviços, os residentes preferem consumir e adquirir nas regiões adjacentes contribuindo para a drástica diminuição da clientela.
Insisti, “milhões” de vezes, neste hemiciclo para que fossem concedidos os cartões electrónicos de consumo, apoiando o lema “Gastar e consumir em Macau” e as PMEs locais. Até o Senhor Chefe do Executivo apelou para que os residentes consumissem pelo menos uma refeição em Macau. Mas a maior parte dos trabalhadores residentes ou trazem as refeições pré-preparadas ou regressam para consumir no interior do continente por ser muito mais barato.
Devido ao dramático desaparecimento gradual dos promotores do Jogo, as concessionárias, não tendo outras alternativas para substituir as receitas provenientes dos negócios promovidos por estes intermediários lançaram mãos nas “redes de pesca” caçando “peixes” de todo tamanho quer sejam jovens, jovens de idade média e idosos, tendo como “isca” os alimentos gratuitos fornecidos dentro das salas de jogo tornando o “Jogo de Todos e para Todos” originando mais jovens viciados no Jogo.
Diversas vezes, sugeri que os cupões de consumo de alimentos concedidos pelas concessionárias do Jogo aos jogadores fossem utilizados exclusivamente nas zonas da cidade mais afectadas para atrair os turistas. E, o mais grave, é o elevado desperdício dos investimentos financeiros em elementos não jogo, que não estão a resultar na criação de mais postos de trabalho, mais riqueza, mais felicidades nas famílias, sendo medidas consideradas como “sol de pouca dura” ou “fazer para o inglês ver”.
Os índices felicidade dos residentes vão diminuindo devido crise do desemprego e cursos sem “saídas” profissionais criando um batalhão de jovens desempregados. Os jovens licenciados no estrangeiro que regressem a Macau correm o risco de desemprego prolongado. Os trabalhadores locais lutam com enormes dificultadas no pagamento das dívidas face às elevadas taxas de juro bancárias e a estagnação dos salários contribui para a diminuição dos casamentos e nascimentos.
Tomemos o bom exemplo da Finlândia e os outros países nórdicos que criaram durante gerações uma sociedade baseada no pilar da felicidade dos cidadãos. Estes países apoiam uma governação baseada na transparência e mútua responsabilidade entre governo, empregadores e trabalhadores. Os cidadãos confiam no Governo e nos funcionários públicos, mas isso não significa que eles obedecem cegamente às autoridades sem pensar, ou seja, quando existam divergências esses debates acontecem num ambiente de abertura, honestidade e transparência.
Tudo isto resulta de possuírem um dos melhores sistemas educacionais do mundo, sendo também os menos corruptos e os cidadãos são mais felizes. Salientamos que a educação e a saúde pública são gratuitas ou cobram taxas muito baixas e a meta do progresso social tem sempre como objectivo primordial a felicidade das pessoas.
De acordo com o recente Relatório Mundial da Felicidade baseado em dados da “Gallup World Poll” a Finlândia foi nomeada pela sétima vez consecutiva como o país mais feliz do mundo. Este sentimento generalizado de felicidade é transposto para o mercado de trabalho através da “flexibilidade do horário de trabalho” em que as empresas e os serviços públicos confiam nos seus trabalhadores cujo enfoque está nos resultados do trabalho e não onde e quando a pessoa trabalha.
Neste país, o trabalho faz parte da vida das pessoas, mas a prioridade é a família, a saúde e os tempos de lazer que influencia o estado físico e psíquico dos trabalhadores, ou seja, o sucesso da flexibilidade no mercado de trabalho da Finlândia tem a ver com o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Os serviços públicos e as empresas preocupam-se com o bem-estar dos trabalhadores porque entendem ser de facto os seus recursos mais valiosos pelo que não constitui problema poder trabalhar mais dias de casa e estar com a família, porque no final, o que conta, são os resultados.
Por cá (Macau) há muito por fazer na saúde mental para diminuir os actuais índices elevados de suicídio. Há que valorizar o convívio familiar com flexibilização do horário de trabalho dando prioridade aos seus resultados.