2023-06-20 IAOD
José Maria Pereira Coutinho
Como resolver o decrescimento económico, o aumento da despesa pública em contraste com a diminuição das receitas do jogo, o aumento do desemprego e das taxas de juro bancárias, e o emagrecimento da classe média
Com o fim do “Plano de benefícios do consumo por meio electrónico” e a não concessão aos idosos das sete mil patacas provenientes do Fundo de Previdência Central, todos os dias, muitas famílias deparam com o grande problema de pagar as contas, uma missão difícil e quase impossível para a maioria delas, principalmente para as famílias que têm a seu cargo os idosos, os idosos acamados, as famílias monoparentais, as famílias com deficientes, as famílias que têm a seu cargo os familiares desempregados, os trabalhadores a tempo parcial e os trabalhadores da linha de frente da função pública e de baixos rendimentos.
Após cinco meses de rigorosas medidas antiepidémicas, implementadas desde Dezembro de 2019, podemos verificar que muitas famílias dos bairros mais populosos continuam a sofrer das consequências dos terríveis efeitos dessas medidas, afectando ainda hoje, a sua qualidade de vida. Sem os cartões de consumo e as sete mil patacas do fundo de previdência não obrigatório, muitas destas famílias veem-se obrigadas a consumir e adquirir bens e serviços nas regiões vizinhas que são muito mais baratos principalmente quando adquiridos nos mercados públicos.
Devo também dizer, que esta diminuição do poder de compra está directamente relacionada com a prolongada estagnação dos salários da maioria dos trabalhadores, incluindo os trabalhadores da função pública cujos salários não são actualizados há mais de quatro anos, não obstante tanto terem trabalhado e sacrificado durante a pandemia do Covid-19. Muitos deles e principalmente os trabalhadores da linha de frente tiveram de trabalhar em longos períodos e por turnos sem qualquer tipo de compensação e descanso suficiente para recuperação física e emocional e tantas vezes prejudicados do convívio familiar e impossibilitados de acompanhar os seus filhos menores.
A permanente diminuição no consumo interno significa permanente diminuição de empresas, e uma permanente eliminação de postos de trabalho, resultando no aumento de desemprego. Estas novas regras transfronteiriças tem causado impacto na economia local, diminuindo o volume de negócios do pequeno comércio localizado nos bairros antigos e que raramente são visitados pelos turistas.
O consumo interno da classe média por via de bens e serviços teve sempre um grande impacto no Produto Interno Bruto (PIB) e constitui um importante indicador do nível da qualidade de vida, ou seja, o consumo é o principal objectivo da produção que alimenta todo o tipo de actividades económicas. Se a maioria dos residentes passarem a consumir e a adquirir bens e serviços além-fronteiras então as consequências serão cada vez mais graves para a fragilizada economia local.
Como referimos, há muitos anos, que o Governo deixou de actualizar os salários e subsídios dos trabalhadores da função pública afectando directamente o consumo interno, porque a grande maioria optou por adquirir bens e serviços no interior do continente. Chamamos a atenção do Governo para implementar medidas para repor o seu poder de compra por forma a acompanhar a carestia de vida e o aumento dos preços dos principais bens e serviços e assumir a importante responsabilidade como entidade empregadora para implementar medidas concretas e eficazes que contribuam para melhorar a sua qualidade de vida.
Nesta fase de recuperação gradual da economia de Macau e para apoiar as pequenas e médias empresas, principalmente as que se encontram fora dos locais onde os turistas mais se deslocam, o Governo deve criar incentivos para aumentar o consumo interno, sendo necessário actualizar os salários dos funcionários públicos que normalmente realizam as suas despesas internamente nomeadamente nos bairros antigos, como está a acontecer em Hong Kong, em que o Governo decidiu aumentar os salários da função pública e conceder à população os cartões electrónicos de consumo para incentivar o consumo interno.
A actualização salarial da função pública pode transmitir uma imagem positiva da recuperação económica de Macau e consequentemente pode captar mais turistas e investimentos estrangeiros concretizando-se a diversificação económica da região. Também poderá servir de exemplo às empresas concessionárias do jogo para actualizar os salários dos seus trabalhadores que tanto apoiaram e contribuíram com enormes sacrifícios nestes últimos três anos da pandemia nunca esquecendo que foram durante anos explorados em férias sem vencimentos ou recebendo salários inferiores aos que tinham direito.