INTERVENÇÃO ANTES DA ORDEM DO DIA
“Ainda o escândalo na contratação de intérpretes-tradutores do interior do continente pelo Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação entre a China os Países de Língua Portuguesa, prejudicando gravemente os interesses dos tradutores locais”
Vamos celebrar brevemente vinte anos da RAEM e cerca de dezasseis anos da criação do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
Pelo meio, teremos a eleição do novo Chefe do Executivo na esperança que as “coisas” melhorem, onde escândalos não faltaram e na maior parte das vezes ninguém da tutela dos serviços esteve disposto a assumir responsabilidades.
Há mais de uma década, que o Chefe do Executivo e alguns titulares dos principais cargos públicos têm, quase sempre, discursado e invocado a importância dos princípios “Um País, dois sistemas” e a necessidade de diversificar a economia para não depender quase exclusivamente da actividade casineira.
E o Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente que foi criado em 2003 tornou-se numa importante plataforma supostamente para ajudar na criação de novas empresas e mais postos de trabalho.
Mas não é isso que está a acontecer na prática face à opacidade do seu modelo de gestão e funcionamento interno e externo e os resultados não aparecem.
Ou seja, esta instituição que será brevemente transformada numa nova Direcção de Serviços, seguindo as pegadas das recentes elevações dos Gabinetes a Direcções de Serviços Públicos vai aumentar os seus quadros de recursos humanos sem deslumbrarem metas e objectivos concretos que devem ser alcançados a médio e longo prazo para justificar o uso do erário público.
Chamo, mais uma vez, a atenção das tutelas que intervêm nestes processos de reestruturação de serviços públicos de que devem escrutinar melhor todo o seu processo de reestruturação e funcionamento para deixarem de ser uma aparente “agência de viagens” aos olhos da opinião pública porque o Gabinete de Apoio existe e sobrevive, como disse, à custa dos dinheiros dos contribuintes.
Há bastante tempo que o Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente “anda doentio” e a tutela vai mudando de coordenadores na tentativa de “curar” uma doença que aparentemente parece “incurável”. Com tanta “gente” a “intrometer-se” na gestão interna do Gabinete de Apoio desde Chefes de Gabinetes, Assessores, e pessoal estranho) não espantam orientações contraditórias que resultam em decisões erradas, como este recente, caso de “enfiar” amigos no Gabinete de Apoio talvez em troca de favores para subir mais um degrau na hierarquia ou ser mais influente dentro da estrutura tutelada pelo Secretário para a Economia e Finanças.
As desculpas esfarrapadas de que os tradutores locais não detém conhecimentos suficientes da realidade nacional chinesa só causam espanto e desprezo por quem as proferiu. O facto de dominarem mandarim de segunda classe significa mais a passagem de um autêntico certificado de incompetência ao ensino ministrado pelo IPM, que ainda recentemente o seu ex-dirigente máximo foi galardoado pelo Presidente da República Portuguesa aquando da sua passagem por Macau.
E o facto dos intérpretes tradutores não dominarem bem as técnicas de tradução e interpretação só merecem meu total repúdio e uma chamada especial de atenção do Senhor Chefe do Executivo prestes a cessar as suas importantes funções de dirigente máximo da RAEM para que tenha uma especial atenção para com os intérpretes-tradutores locais que nos últimos dez anos tanto contribuíram para o seu cabal exercício de funções de dirigente máximo da RAEM. Já agora, os intérpretes-tradutores queriam perguntar se o Chefe do Executivo que tantas vezes se desloca ao interior do continente também precisa de contratar intérpretes-tradutores do interior do continente com conhecimentos da realidade nacional do interior da China? Enfim, não fossem as queixas dos próprios intérpretes-tradutores, este assunto seria facto consumado e serviria de exemplo para mais serviços públicos importarem mão-de-obra barata e obediente do interior do continente.
Enquanto a maioria dos jovens que “sonham” trabalhar na função pública tem de passar por dolorosos e prolongados processos de avaliação de conhecimentos, outros caem de para-quedas ou entram pelas portas traseiras em velocidade de foguete. Tudo feito na “escuridão” e prejudicando os interesses dos intérpretes locais.
Ao dizerem que os intérpretes locais não tem conhecimento da realidade nacional do interior do continente após vinte anos da RAEM estão também a passar um atestado de incompetência aos professores do Instituto Politécnico de Macau que merecem o nosso maior respeito pela seu empenho e dedicação na formação de quadros locais.
Muito intérpretes-tradutores locais perguntaram-me como é que o Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente chegou a estas conclusões? Os intérpretes-tradutores estão à espera de explicações mais detalhadas por parte do Gabinete de Apoio.
Enfim, termino por dizer, que a maioria dos intérpretes tradutores de língua chinesa e portuguesa quer da função pública quer na privada estão tristes e revoltados por o Gabinete de Apoio do Fórum de Macau, a DSAL e os SAFP andarem de “braços dados” violando grosseiramente a Lei de Bases da Política de Emprego e dos Direitos Laborais onde é taxativo que os trabalhadores só podem ser contratados quando vise suprir necessidades temporárias ou insuficiência de intérpretes e só podem estar por um tempo limitado. Bem afirmou, recentemente neste hemiciclo o Secretário para as Obras e Transportes que no caso das obras de Mong-Há só soube que tinham violado leis após notificações dos tribunais. Antes disso, não sabiam, nem queriam saber das leis. Mas depois das notificações começaram cumprir com as leis. Nesta lógica, pode um condutor dizer que não paga uma multa por mau estacionamento por desconhecer as leis e o local ser proibido de parquear?
É de bradar os céus onde nos chegamos!
Enfim, o próximo Chefe do Executivo que se acautele porque muita “comida estragada” vai sobrar, se não estiver atento!
Muito Obrigado
O Gabinete do Deputado à Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau aos 06 de Junho de 2019.
José Pereira Coutinho