INTERVENÇÃO ANTES DA ORDEM DO DIA
Será hoje, a RAEM uma cidade “Over-Turism”?
A nível internacional, as cidades superlotadas de turistas ou visitantes como queiram chamar, são chamadas cidades “Over-Turism”. Estas cidades aceitam indiscriminadamente os turistas, invadindo-as como pragas de gafanhotos. Normalmente estas cidades são seduzidas e atraídas pelos gastos dos visitantes e “esquecem” das consequências nocivas do “Over-Turism”.
E a RAEM se calhar vai ganhar fama com este nome face ao insuportável número de visitantes e o facto dos residentes estarem a perder todos os dias a sua qualidade de vida.
Ninguém está contra o turismo, mas os governantes tem de adoptar soluções de equilíbrio e não esperar para ver quando a cidade vai “romper pelas costuras”.
A RAEM já é pequena em termos de dimensão geográfica e elevada densidade populacional com a particularidade de faltar espaços para tudo e todos. E tudo isto torna-se mais complicado para a vida dos residentes quando existem barreiras burocráticas nos postos fronteiriços que impedem a rapidez e simplicidade na entrada e saída de residentes, bens e mercadorias dentro do próprio Estado chinês.
De acordo com um estudo de uma agência internacional de turismo holandesa neste momento são classificadas como “Over-Turism” as cidades de Barcelona, Mumbai, Amesterdão, Veneza e Hanoi. E não falta muito tempo para a RAEM entrar nessa lista.
Sistematicamente, sou abordado por muitos residentes e guias de turistas locais que me chamam a atenção para a tipo e qualidade de visitantes que entram na RAEM. Dizem eles que a RAEM não precisa de visitantes de “pés descalços” ou os que se inscrevem nos pacotes turísticos de quase a custo zero e chegados a RAEM são “encaminhados” para certas lojas pré-determinadas para serem aliciados nas compras, muitas vezes na compra de produtos contrafeitos ou mesmo burlados ou seja lojas que propiciam vendas de “gato por lebre”.
Em Março do ano transacto um dos temas mais discutidos nas conferências da ITB de Berlim foi o excesso de turistas. Dados divulgados na ITB mostraram que 24% dos turistas tiveram a sensação que o destino estava saturado de pessoas e destes 9% afirmaram que a situação afectou a qualidade da viagem. Os lugares mais atingidos foram Cidade do México 23%, Xangai 22% Veneza 20% Pequim 19% RAEHK 18% Istambul, Amesterdão, e Florença todas com 17% e finalmente Barcelona com 16%. De uma maneira geral perdura o descontentamento da população que se sente sufocada, ameaçada e prejudicada com a diminuição da sua qualidade de vida.
Por isso, a RAEM precisa de seguir outro rumo implementando medidas equilibradas baseados no Princípio de “Turismo Responsável” em que os interesses e direitos básicos dos cidadãos sejam devidamente salvaguardados nomeadamente a preservação da qualidade de vida dos residentes.
As ruas mais frequentadas pelos turistas estão cada vez mais sujas e não há meios de mantê-las limpas face ao seu elevado número de visitantes.
E na ausência de uma política clara de desenvolvimento sustentável da indústria do turismo aliado à falta de ética e de um turismo responsável são ingredientes que fomentaram cada vez mais a proliferação de pensões ilegais, as práticas desonestas de venda de produtos duvidosos.
A RAEM precisa de medidas baseadas num turismo responsável de respeito do meio ambiente, recolha do seu próprio lixo nomeadamente os plásticos e justiça social.
A completar quase os seus vinte anos de existência, a RAEM e os seus residentes merecem mais respeito e melhor qualidade vida!
Muito Obrigado!
O Deputado à Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de
Macau aos 24 de Janeiro de 2019.
José Pereira Coutinho