INTERVENÇÃO ANTES DA ORDEM DO DIA
No Programa Político Eleitoral de 2014, o Chefe do Executivo fez várias promessas para melhorar o actual sistema de saúde. Prometeu ser uma prioridade do Governo de Macau a melhoria da qualidade de vida dos residentes. Prometeu também melhorar as instalações, equipamentos hospitalares e a qualidade de serviço. Os cidadãos esperam que estas promessas sejam cumpridas no seu mandato.
No hospital público, não podemos ignorar que os recursos humanos estão cada vez mais sobrelotados de trabalho devido ao aumento populacional e de turistas. Os cidadãos exigem mais e melhor qualidade de serviços e o Governo responde com prolongamento de horários de trabalho que deixam quase todo pessoal de saúde totalmente extenuados no final da cada jornada de trabalho.
Devido à falta de recursos humanos e para satisfazer às necessidades externas foram recentemente criados no hospital público alguns horários de trabalho considerados “espartanos” sem preocupar com a insuficiência de recursos humanos e tempo suficiente para descanso e subsequente recuperação.
Todos os dias assistimos à “correria” do pessoal de saúde decorrentes de terem de trabalhar em situações adversas impostas pela profissão em actividades variadas. A extensão de horários de trabalho e em turnos diferentes está a afectar o desempenho físico e profissional de muitos profissionais podendo gerar distúrbios mentais, neurológicos, psiquiátricos e gastrintestinais.
Verificamos também que algumas das múltiplas deficiências que subsistem na gestão interna dos serviços de saúde contribuem para a degradação das relações interpessoais no conjunto dos profissionais de saúde são referidas por muitos profissionais como factor contributivo para o aumento do “stress” proveniente do ambiente de trabalho onde se desenvolvem as actividades laborais, o ritmo e a exigências de serviços.
O problema de um profissional de saúde estar com “stress” tem múltiplas origens e estão ligadas à estrutura do sistema de gestão hospitalar onde muitas vezes falha a comunicação entre os gestores e os profissionais de saúde principalmente com os profissionais da linha de frente. A nível mundial há uma preocupação cada vez mais maior com a saúde mental e bem-estar dos trabalhadores da área da saúde, principalmente com os trabalhadores da linha de frente.
É também crescente o afastamento permanente do trabalho por doenças mentais e existe a tendência de superar os afastamentos por doenças cardiovasculares e doutra natureza. Contactamos alguns especialistas que nos descreveram o aumento de ocorrência de transtornos mentais comuns (TMC) em profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) evidenciando a vulnerabilidade peculiar destas classes profissionais.
Alguns desses profissionais de saúde relatam tristeza, ansiedade, fadiga, diminuição da concentração, preocupação somática, irritabilidade e insónia. Trabalhar em situações de estimulação ambiental excessiva pode possibilitar equilíbrio psicossomático relevante para o funcionamento psíquico. Em contrapartida, pode levar a infelicidade, alienação e doença mental.
Termino, recordando, a promessa do Chefe do Executivo constante no Programa Político Eleitoral de 2014 “Os trabalhadores da Administração Pública constituem valiosos recursos humanos do Governo da RAEM”. Esta afirmação não deve ser utilizada como uma “bandeira” ou “slogan” pelos responsáveis dos Serviços de Saúde mas implementadas com medidas concretas para elevar a moral destes profissionais e subsequentemente a prestação de qualidade de serviços aos cidadãos.
Muito Obrigado!
O Deputado da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau aos 15 de Junho de 2015.
José Pereira Coutinho