VOX POPuli
Paulo Rosa Rodrigues
(residente na RAEM)
“Não há políticas nem planeamento em Macau”
- Residindo em Macau há 31 anos, como analisa a evolução de Macau?
- O Macau que existia deixou de existir, e há um novo que é aquilo que é. Não sou contra o progresso, sou contra as asneiras que têm sido feitas. Hoje temos poluição, alergias, tráfego. Houve uma administração portuguesa que tentou gerir as coisas de uma maneira e agora temos uma coisa qualquer que não sei se será bem uma administração.
- Então não concorda com as políticas actuais...
- Não há políticas nem planeamento. Basta olhar para os números. Um dos indicadores é a utilização real do PIB pelo Governo. Quando se chega ao quarto ou sexto mês em que apenas uma pequena percentagem foi utilizada alguma coisa está errada. Isso só significa que as pessoas não sabem o que estão a fazer.
- O Jogo tem aspectos positivos ou negativos?
- Sou contra o jogo. Se se considerar que o importante é dinheiro, obviamente que os casinos contribuíram, porque é talvez o único território do mundo que está a nadar em dinheiro sem saber o que fazer com ele. Como considero que a parte humana é a fundamental, acho que está uma catástrofe completa. É uma questão de saber direccionar o dinheiro para entidades que de facto ajudam as pessoas...Não é comprando as pessoas com 6.000 patacas ao ano que se resolvem os problemas. Dessa contribuição, que para muita gente em Macau é importante porque há muitos que ganham pouco, basta dizer que cada ano corresponde a um hospital novo. Deveria ser balançado o que realmente é importante.
- Macau não tem infra-estruturas necessárias?
- Está tudo atrasado. Aliás, não há nenhuma infra-estrutura que na realidade esteja a funcionar em condições.
- Que comentário faz ao novo modelo de autocarros?
- É inadmissível que tenha sido autorizada a compra de viaturas com níveis de poluição a corresponderem há 10 ou 12 anos. Para além da maior parte dos autocarros ser em segunda mão. Seria bom investigar a sério se esses autocarros foram feitos de raiz. Além disso, temos de olhar para Hong Kong para ver quantas operadoras tem aquele território e perceber porque é que temos três operadoras aqui. Deveria ser uma entidade privada a gerir todo o sistema. O que resolvia muitos problemas era se cada residente tivesse transporte grátis. Porque se eu tiver transporte grátis não tenho mota nem outro carro.