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2022-10-17    IAOD

José Maria Pereira Coutinho

“Manual para a destruição do Futebol de Macau”

 

É notório e do domínio público que o desporto em geral e o futebol em particular têm vindo a degradar-se em Macau nos últimos anos, e prova disso, é a cada vez mais diminuta a assistência nos vários jogos de futebol de Macau.

 

Macau falhou em Junho de 2019 (pré-pandemia) a participação na primeira ronda de apuramento para o Mundial FIFA do Qatar de 2022 e da Taça Asiática da China em 2023 por recusa da AFM de viajar e ficou imediatamente eliminado destas competições pondo em risco a participação da selecção de Macau em competições da FIFA e da AFC (Asian Football Confederation / Confederação Asiática de Futebol) (AFC) tendo sido multado pelo Comité Disciplinar da FIFA. Além da má imagem no exterior, a saída destas competições internacionais significou a perda de 14 jogos internacionais a serem organizados pela Associação de Futebol de Macau e uma forma de promover o turismo e a economia em vários mercados asiáticos e mundiais.

 

Em 2021 apenas duas equipas de Macau obtiveram a licença para participar na Taça da AFC mas tiveram posteriormente de declinar a participação na prova por não estarem reunidas as condições para saída e regresso ao território. Esta situação é demonstrativa da falta de apoios ao desporto e ao futebol em Macau, sendo que os jogadores, na sua maioria não profissionais ou semi-profissionas arriscam a perder o seu emprego para representar as suas equipas ou a selecção por não verem as suas faltas justificadas no período de quarentena nem os seus salários pagos por completo.

 

Por várias vezes houve graves falhas nos trâmites burocráticos que impediram a participação de equipas locais em competições internacionais o que mais uma vez prejudicou o desporto e os jovens futebolistas de Macau tendo responsáveis dessas equipas referido que a Associação de Futebol de Macau apenas estava interessada em cumprir os critérios mínimos para obtenção de subsídios da FIFA e da AFC.

 

Na organização de competições locais a AFM solicita aos clubes que assinem um documento a ilibar a associação de quaisquer responsabilidades em jogos oficias por si organizados, ficando os jogadores e clubes à mercê da sua sorte em caso de algum acidente. A falta de condições, de apoios e de um sistema de seguros obrigatórios que permita aos jogadores e clubes fazer face a eventuais acidentes ococrridos nos campos do governo e nas competições oficiais põe em risco a integridade física dos mesmos.

 

Outra grave questão tem a ver com o lastimável estado das instalações desportivas e dos campos de futebol em geral sendo que habitualmente as obras efectuadas de manutenção mais parecem uma “manta de retalhos” o que representa um risco para todos os futebolistas e desportistas. Veja-se o estado do relvado do Estádio da Taipa e das suas instalações de apoio, ou o estado do campo do canídromo e das Portas do Cerco ou o caso das obras efectuadas no campo Tamagnini Barbosa em 2021 que remendou as redes de protecção e o piso do campo, mas deixou as bancadas da assistência cheias de rachas. Será que não há dinheiro para recuperar o estado global dos campos de relva sintética e instalações desportivas? Todos sabemos que efectuar diversos remendos fica mais caro do que consertar ou substituir de uma vez algo que não está em condições.

 

Há em Macau uma falta notória de instalações desportivas que permitam o desenvolvimento desportivo juvenil, e as insuficientes instalações existentes estão na maior parte das vezes num estado de degradação que às vezes até chove por dentro como é o caso do Centro Desportivo do Nordeste da Taipa.

 

Pergunto-me, há quantos anos não vêm equipas de topo jogar a Macau? Quando foi a última vez que tivemos uma equipa de gabarito internacional em Macau ou mesmo dos países de Língua Oficial Portuguesa? Há tantos anos que já não nos recordamos da última vez que isso aconteceu.

 

Aliás, a RAEM diz-se como plataforma de ligação aos PALOPs e inclusivé existem vários protocolos para termos estudantes universitários desses países em Macau. No entanto, esses mesmos estudantes que vêm para Macau ao abrigo dos protocolos oficiais são depois impedidos de se integrar na sociedade de Macau e assim contribuir para o estabelecimento de laços culturais porquanto são impedidos de participar nas competições organizadas pela Associação de Futebol ao nível da 4ª divisão. Não seria que por força do desígnio de fazer de Macau uma verdadeira plataforma com os países de língua portuguesa que estes estudantes fossem integrados na sociedade e pudessem participar nas diversas modalidades desportivas do território?

 

Vejamos as várias falhas do ID no aspecto de promoção do desporto sobretudo ao nível da promoção da formação juvenil, aliás condição necessária, actualmente, para que os clubes de Macau possam participar nas competições internacionais da AFC.

 

Desde as regras internas que não são públicas de que as Associações apenas podem ter uma hora por semana de utilização de um único campo para a sua preparação para as competições oficiais, o que é manifestamente insuficiente afectando o rendimento e competitividade das que pretendem melhorar os seus índices de produtividade, passando pela discriminação na atribuição de campos às diferentes associações em que apenas algumas conseguem ter mais do que uma hora semanal contrariando as prórprias regras internas do ID, ou até situações de não atribuição de instalações livres como ocorreu no verão do ano passado durante 4 ou 5 meses em que o campo do Sam Yuk que esteve desocupado em determinados horários, porque o Instituto do Desporto se recusou a atribuir o campo às associações que o solicitavam, desculpando-se com o facto de estarem a fazer uma análise interna das regras de atribuição e, pasme-se, tendo inclusive no calendário do seu site na internet colocado que o campo estava ocupado para manutenção da relva que como se sabe é articifial. Será que é preciso conhecer as pessoas certas nos sítios certos para se conseguir utilizar os campos afectos ao Instituto do Desporto?

 

Há várias questões de índole administrativo que demonstram uma falta de respeito pelas associações e pelos cidadãos de Macau na atribuição das instalações desportivas, nomeadamente a falta de resposta escrita aos pedidos escritos efectuados ao ID, que na maioria das vezes nem reposta recebem ou se resposta obtiverem de forma oral será sem uma justificação adequada. A todo o momento as associações desportivas locais são confrontadas com novas regras de funcionamento que nunca estão disponíveis no site do ID nem escritas em nenhum lugar, parecem ser feitas à medida para justificar decisões sem nexo.

 

Não há qualquer apoio do Instituto do Desporto à formação juvenil, nem financeiro nem com abertura das instalações para que essas associações possam desenvolver as suas actividades e na maioria das vezes há até entraves ao desenvolvimento dessas actividades.

 

No âmbito da governação electrónica não se percebe que as diferentes associações tenham actualmente ainda de submeter os seus pedidos em papel nem que os pedidos de utilização individual dos campos para desportos de grupo, como é o caso do futebol, continuem a sofrer de falhas prejudicando todos aqueles que utilizam os meios electrónicos de marcação de instalações.

 

A bem da transparência, as contas da Associação de Futebol de Macau e todos os apoios financeiros provenientes do erário público e internacionais atribuidos à mesma devem ser publicitados uma vez que esses valores muitas vezes não chegam às associações locais, em alguns casos, estando há anos à espera da devolução das taxas de inscrição das suas equipas nas competições oficiais. Também não são transparentes os critérios de atribuição de apoios logísiticos e financeiros às equipas locais.

 

Sugere-se igualmente a criação de um Centro de Apoio às Associações Desportivas com infraestruturas próprias e partilhadas entre as diferentes associações que lhes permitam ter condições de desenvolver as suas actividades de formação juvenil, nomeadamente com instalações administrativas, de formação de formadores e de apoio logístico.

 

Deve-se apostar na criação de mais infraesturas desportivas de apoio à formação do futebol juvenil nos terrenos recuperados pelo governo nos últimos anos referentes a concessões que não foram desenvolvidas, bem como a criação de infraestruturas em número suficiente nas zonas dos novos aterros e até um centro de estágios de nível internacional que possa atrair equipas dos Palop ou de outras regiões exteriores.

 

Sugere-se igualmente a alteração do mecanismo de atribuição dos campos às diferentes associações assegurando a igualdade de acesso e eliminação das situações descriminatórias que existem actualmente, bem como as melhorias no sistema informático de aluguer individual dos campos permitindo a todos os que os reservam em primeiro lugar terminar os trâmites burocráticos e de pagamento desses campos sem a sua atribuição a outras pessoas.

 

Muito obrigado!

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